Quando Sócrates foi o melhor do mundo

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Quando Sócrates foi o melhor do mundo

Sócrates

Eugenio Goussinsky

 

Não. Não venham me dizer que a melhor fase da carreira do Sócrates foi em 1982, quando ele liderou a seleção na Copa do Mundo. Nem em 1983, quando, depois de ser campeão paulista em 1982 pelo Corinthians, conquistou o bi dando show no Morumbi. E foi eleito o melhor da América do Sul, pelo El País.

 

Desequilibrou, nas semifinais, marcado o jogo inteiro pelo palmeirense Márcio. E, na final, sob chuva, também decidiu. Não, também não foi em 1984 quando, depois de encantar o mundo, ele foi contratado pela Fiorentina.

 

Leia mais: “A maior torcida, de pai para filho”

 

A melhor fase da carreira de Sócrates ocorreu entre 1978 e 1979. Naqueles anos, Sócrates foi o melhor do mundo. Ele ainda atuava com a 9, como falso centroavante. Não tinha barba. Seu porte esguio, magro, dava um encanto maior quando ele tocava na bola. Surpreendia ver tamanha elegância em um craque que não aparentava ter tanto talento.

 

 

Do alto de seus 1m93, ele detectava espaços no campo que nenhum dos milhares de torcedores presentes, nem os jogadores, nem os jornalistas, nem os membros da comissão técnica, nem os reservas, nem os gandulas, nem os maqueiros, perceberiam. Tenho inúmeros exemplos para provar o que digo.

 

 

Um deles foi o passe de calcanhar inexplicável, no meio de uma multidão de jogadores, que fez a bola chegar limpa nos pés de Palhinha, contra o Santos. Outro foi o golaço diante do consagrado zagueiro Krol, do Ajax, quando a atuação de Sócrates fez o técnico da equipe holandesa, Cor Brom, desabafar, extasiado: “Esse 9 é simplesmente espetacular.”

 

Houve também a atuação soberba dele contra o sempre forte Uruguai. Foi o responsável por tornar fácil aquele jogo contra o aguerrido adversário: 5 a 1 para o Brasil, no Maracanã. A própria torcida carioca, naquele dia, se rendeu em aplausos à atuação do Doutor, como ele era conhecido.

 

 

Não, não digam que naqueles dois anos Zico foi o melhor. Zico, genial, já havia causado espanto em temporadas anteriores. Em 1976, no Torneio Bicentenário da Independência dos Estados Unidos, fez o técnico italiano, Enzo Bearzot, o chamar de sucessor de Pelé, depois de desequilibrar o jogo contra a Itália. Quando o Brasil, assim como em 1970, venceu por 4 a 1.

 

Zico já se consagrara. Já se consolidara como uma realidade. Não era mais novidade. Não surpreendia tanto. Maradona ainda não chegara ao auge.

 

Falcão também teve em 1979 uma temporada espetacular, que culminou com sua atuação na semifinal do Brasileiro.

 

 

Fez dois gols contra o Palmeiras, em jogo inesquecível, no Morumbi, na vitória do Inter, tricampeão naquele ano, por 3 a 2. Mas também não era surpresa.

 

Leia mais: “Ser Corinthians”

 

Sócrates, não. Já havia se destacado no Botafogo de Ribeirão Preto. Mas, em 1978 e 1979, se abriu para o mundo com o Corinthians e com a seleção brasileira, da qual foi protagonista. Seu estilo original surgiu como presente. Como uma dádiva.

 

Eu mesmo digo que, quando o Corinthians lotou o Maracanã e fez história naquele jogo contra o Fluminense, conheci a paixão pelo Corinthians. Mas quando Sócrates surgiu, conheci a paixão pelo futebol. Não, não me digam que, naqueles anos, Zico era o melhor. Em 1978 e 1979, foi a vez de Sócrates. Foi a vez de Sócrates.

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