Ele falava com uma amiga sobre epilepsia. E lhe veio de roldão a cena que viu, quando criança, de um homem caindo em ataque, ao lado da velha garagem de sua casa no Itaim. O menino não sabia o que fazer. Não lembra se o senhor, um pedreiro corpulento que trabalhava na reforma dos muros e do jardim da frente, foi de pronto atendido e quem o ajudou a se levantar. Era bigodudo e tinha um cabelo volumoso, embranquecido pelo tempo e pelo trabalho duro. Naquela época não havia tanto remédio. Nem se ouvia falar de carbamazepina (Tegretol) e valproato de sódio (Depakene, Valpakine). Sentiu compaixão pelo homem, pelo menino assustado naquele momento, por dramas que se transformam em reminiscências e ficam banalizados pelo passar dos anos. Também da sua mãe, ansiosa por ver a casa reformada. E, na tentativa de reformar as coisas para melhor, inclusive seu mundo, ela teve, no fim, de ajudar a cuidar do pedreiro convulsionado. Arranjou cadeira para ele sentar e, entre idas e vindas da atônita empregada, lhe deu um copo de água com açúcar. Recebeu um obrigado longínquo, mas que ainda hoje, soluçando bem de leve lá de algum lugar, soa desnorteado. Titubeante entre o eterno e o instantâneo, nesta obra que se reforma todos os dias.
Epiléptico
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