A maior torcida, de pai para filho

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A maior torcida, de pai para filho

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O primeiro jogo que ele assistiu no estádio foi Corinthians e Santos, em 1977. 1 a 1. Morumbi com 120 mil pessoas.

 

Foi um presente de aniversário, que comemorou dois dias antes. Desde o primeiro tempo, seu pai, ao seu lado na arquibancada, repetia: “O lateral-esquerdo deles é bom jogador, mas é quarto-zagueiro, está fora de posição. O Vaguinho, na direita, é o mapa da mina.”

 

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E, aos dois do segundo tempo, Vaguinho, ponta-direita do Corinthians, avançou pelo corredor e tocou na saída de Ricardo. 1 a 0. Em seguida, porém, o menino conheceu ao vivo também como é bela a parábola de uma falta bem batida. Mesmo frustrado, três minutos depois, admirou o gol marcado por Aílton Lira, exímio cobrador santista.

 

 

A paixão pelo Corinthians se enraizou nele naquele jogo. Repetia a escalação da equipe para o guardador, antes de entrar no carro, estacionado em terreno próximo do estádio. Aquele dia se tornou uma lembrança para o resto da vida. Como uma doce marca da sua memória.

 

Acumularam-se várias cenas: as conversas com o pai, os cuidados dele para estacionar em um bom lugar. As mãos dadas enquanto o conduzia pela multidão, para não se perder e nem ser atropelado pelos carros, que lentamente se enfileiravam pela Giovanni Gronchi.

 

Era capaz até de se lembrar da respiração do pai, que não perdia a educação nem no truculento ambiente futebolístico. Andaram um bom pedaço até chegarem.

 

O pai, ofegante e atento, buscava entender em qual portão entrariam, perguntando com amabilidade para os guardas emburrados, pedindo licença, deixando-o sentar antes na arquibancada lotada para depois se acomodar naquele aperto.

 

Lembrou-se de tudo isso, agora, quando preenchia o formulário na internet, para pagar uma quantia e ajudar a quitar a dívida do Corinthians com a construção da Arena.

 

Veio-lhe a voz do pai ensinando como o Corinthians era popular, lhe explicando que o torcedor do Corinthians era único e que a torcida do Corinthians era a maior. “Um dia você vai entender por quê”, dizia o pai.

 

Naquele momento, já sem o seu pai, que se fora, ele era mais um do bando de loucos a ajudar a pagar a dívida.

 

Teve então uma ideia. Que surgiu como uma ordem vinda de seu íntimo. Preencheu outro formulário. E o colocou em nome do velho.

 

Foi invadido por uma alegria rara, mais volumosa do que a invasão do Maracanã. Não sentira isso nem nos títulos.

 

 

O sentimento naquele momento só se equiparava ao daquele jogo, em 1977. Quando tudo começou. Ou foi descoberto, em um dia de puro amor paterno. Foi uma felicidade em dobro.

 

Sempre que ele olha para aquele certificado de doador, com o nome do pai, entende enfim aquele porquê, conhece o mapa da mina. Nenhuma torcida mesmo se iguala.

 

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Já teve mostras disso ao longo dos anos. Mas, agora, estava mais do que confirmado. Nenhuma torcida paga do bolso um estádio. Nenhuma torcida tem tantas histórias pessoais costuradas em torno de um clube.

 

A torcida do Corinthians é a maior de todas. Incomparável. A mais numerosa. É uma torcida tão grande, mas tão grande, que ela é uma torcida de corpo e de alma.

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