É fácil, amparado por uma multidão, ficar acusando o rei de estar nu. De cima de um palanque, um jornalista grita para uma massa aflita por justiça e honestidade, quando nem ela sabe direito o que é isso. “O rei está nu”, dispara, para uma ovação em tom de torcida de futebol.
“Éhhhhh!!!”, soa quase como um gozo ensandecido. Ninguém, porém, grita que a multidão está nua. Também o jornalista não gritaria para um rei que estivesse nu, mas que fosse reverenciado por um povo propenso a fingir que a nudez não existe.
O jornalista acaba confundindo-se com a multidão e só grita o que ela quer ouvir. Ele apenas pensa ser um Émile Zola, que escreveu um artigo corajoso, “J´Accuse”(“Eu acuso”), em 1898, apontando que o governo francês estava nu, quando a grande maioria defendia a injusta punição ao capitão Dreyfus, judeu.
Zola se expôs ao atacar o antissemitismo em uma sociedade basicamente antissemita. No Brasil dos escândalos, porém, todos acusam para se livrar de suas culpas. “O inferno são os outros”, como dizia Sartre.
E o jornalista que pensa ser Zola se engana, porque ele não apenas acusa.
Ele só acusa.