A babá tinha dois empregos. Na terça e na quinta ia na casa do Edu, um garoto magro, pele bronzeada e olhos azuis. Cara de menino dengoso, quieto e esperto. Na sexta cuidava de uma criança de três anos, dotada de uma beleza cativante. O menininho sabia até falar “paladoxo”… Ela praticamente o vira nascer.
Um dia o pequeno, com a babá, encontrou o Edu no clube. O Edu se comportou com ética, não interferiu no trabalho dela. Foi brincar por outras bandas. Mas ficou uma relação entre o pequeno e o Edu. Depois brincaram juntos na biblioteca, sozinhos, tentando adivinhar as figuras dos livros.
A moça, que se tornou um elo entre eles, já tinha ido embora. Fora viajar no período de festas. Dias depois, na lerdeza do início do ano, o pai do garoto pequeno teve de ir ao clube, quase sem ninguém. Viu, porém, o Edu chegar à lanchonete, com aquele mesmo jeito introspectivo e atento do dia em que brincou na biblioteca.
O Edu estava lá, mas não estavam o seu filho e nem a moça. Nem os gritos cheios de alegria, do seu filho, e a voz orientadora, com sotaque nordestino, da moça, que costumavam ecoar pelas quadras e alamedas de lá. O ecoar, agora, era um ecoar latejante de ausência. Algo misturado a uma imagem invisível, mas presente.
E num pequeno milagre, o semblante dos dois se refletiu nos olhos do Edu.
Olhos tão azuis, como um céu que, em sua infinitude, naquele momento era preenchido de saudade e de silêncio.