Quando eu era criança, minha mãe tinha razão em tudo. Venerava-a, adorava me aninhar em seu colo, muitas vezes torcendo para meu pai dar plantão e eu ir dormir ao lado dela na cama. Sentia-me protegido, muito mais do que em meu quarto escuro e propenso a visões assustadoras.
Cresci. Então ela já não mais tinha razão em tudo. Ansiava por provar minha independência. Tornei-me pai e um dia concluí que meu amor por ela continuou intacto. Hoje, ligo diariamente para lhe dizer boa noite. Ela atende deitada naquele mesmo quarto.
Sozinha. Percebo o movimento da vida quando desejo que meu pai estivesse lá com ela. Que plantão, que nada, volte para casa paiêêêê! Sou fruto de tudo isto. É por isso que preciso dizer boa noite todos os dias. Não só para ela, para meus filhos, para minha esposa, mas também para a minha infância.
Rogo para que ela, de seu leito, tenha bons sonhos, com a canção de ninar que lhe canto e o leite com que a amamento.
Uma gota de orgulho, outra de compaixão, outra de saudade.
Infância minha, adocicada pelo tempo… Tenha bons sonhos.
Para que você possa acordar de vez em quando em mim, revigorada.