Um homem alto, barbudo, cabelos lisos, brancos e despenteados pedia esmola por entre os carros em uma rua em aclive. Ele andava amarrotado, vestido com uma camisa aberta e calça rasgada. O curioso é que conduzia um cachorro preto, de tamanho médio, numa correia.
O olhar do cãozinho se identificava com o do dono. Era surrado, quase alienado e triste. Acompanhava-o orgulhoso e solidário, janela por janela. Se não fossem homem e cachorro, diria que eram gêmeos. O motorista acostumou-se a vê-los juntos.
Até um dia em que se surpreendeu ao se deparar apenas com o cachorro, preso à correia, parado na praça ao lado. Ele parecia perdido, desesperado.
Olhava para cada carro no farol fechado, com aquele choro fininho, como se perguntasse. “Você viu para onde ele foi?” O motorista não soube o que responder.
Ficou em dúvida se jogava uma moedinha para o cão.
Logo desistiu.
Quis então sair do carro, pegar a correia e, junto com ele, ir pedir esmola de vidro em vidro.
Seria uma maneira de consolar a solidão de ambos.
Mas o farol abriu.