A tia gostava de cultivar plantinhas em pequenos potes. Minúsculos, do tamanho de tampas de detergente e coisas parecidas. Ela as deixava na borda das janelas e na sacada.
Regava, colocava para tomar sol, quase acariciava. Um dia seu marido de muitos anos foi levado para outra cidade e nunca mais se viram. Depois ela foi embora, para uma boa clínica, que a acolheu com respeito.
Foi um fim de casamento repentino e implacável.
Mas as plantinhas ficaram, tomando sereno, sorvendo os eflúvios da noite, se guiando pelo barulho do trem, avistando a paisagem urbana que ia do centro a Santana, retendo as histórias dos sobrinhos, que percorriam o apartamento atrás dos brinquedos, das revistas, se esbaldando no tapete de pele de carneiro.
Elas ficaram por lá, carregando todas essas movimentações.
Até murcharem de saudade.