Vozes

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Vozes

Um dia o semblante do seu pai se desenhou à sua frente, como uma fina estampa em um tecido de seda. Era tênue, poderia se desfazer em um piscar de olhos, em um sopro do vento no entardecer. Parecia a vida da gente.

 

A voz do passado era tão presente, surgia remota, mas ao mesmo tempo próxima, ressoando em seus ouvidos lufadas silenciosas de recordação. As idas para a escola, as conversas sobre política, os estudos de Biologia à noite.

 

Sentiu-se tão perto dele, que esticou o braço, tentando apalpar seu rosto já envelhecido, com aquele mesmo olhar tímido emergindo de suas retinas azuis (ou verdes?).

 

“Pai”, sussurrou, logo espantando a imagem, que se esvaiu como um sonho. Suas palavras ecoaram, porém, em outra voz, fina, infantil, o chamando para brincar.

 

“Pai”, escutou.

 

Voltou-se para baixo, viu um sorriso aberto e um olhar de filhote pronto para uma nova travessura.

 

Dança do amor e da saudade para distrair o vazio.

 

Veio-lhe então uma vontade enorme de escrever sobre a graça dos dentes-de-leite.

 

Tão transitórios, como a vida da gente.

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