‘O tempo vai dizer que eu estava certo’

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‘O tempo vai dizer que eu estava certo’

Israel

Por Eugenio Goussinsky

 

Na vida, diante de frustrações e injustiças, não há ser humano que não emende essa frase, com um melancólico ar de esperança: o tempo vai dizer que eu estava certo.

 

Um professor é visto como cruel pelo aluno que ele decidiu repetir de ano. Seu consolo e sua consciência residem nesta frase. Assim como o de um pai que se zanga com um desleixo do filho. A nobre frase vale ouro. Não pode ser falada da boca para fora, em tom de revanchismo, em qualquer lugar, por capricho, raiva ou vaidade.

 

Como uma tábua da lei, deve ser pronunciada até meio silenciosamente, em tom de balbucio, não de premonição vã.

 

Ela, afinal, é a gestora de uma verdade que se apresentará, com todo o seu brilho, no futuro. Não precisa de holofotes. Quem a diz levianamente, que bata três vezes na boca.

 

Abraão a ouviu na paisagem seca da Mesopotâmia. Desde criança, se encantava com a beleza da lua. Se intrigava com a chegada do sol para substituí-la. E contemplava estrelas, montanhas, vales, planícies, oceanos, rios, céu e terra, saciado pelo exercício de fazer a dúvida se tornar certeza e voltar a ser dúvida. E atravessou a Mesopotâmia até o seu destino.

 

Isaac e Jacó lá se estabeleceram, até que a fome fez as pessoas emigrarem para o Egito. Então José sonhou em um dia dizer tais palavras para seus irmãos, o tempo vai dizer que eu estava certo. Vieram as tribos, a escravidão, o sofrimento.

 

Moisés conduziu o povo para fora do Egito, depois de insistência exaustiva. Perseguição no Mar Vermelho, chão tremendo com a disparada insana dos cavalos em perseguição.

 

Peregrinação no calor, por 40 anos, com vontade de desistir, de procurar outras explicações. Até que as novas determinações caíram como um raio, lá no monte, e ajudaram a afastar a idolatria dos que desacreditavam tais palavras.

 

A ideia do falso messias sempre esteve presente entre os que tentavam fazer o tempo provar em falso que estavam certos. Na dor e no desejo de não prosseguir.

 

Então surgiu a monarquia com Saul, depois Davi unifica Jerusalém. Os salmos mostravam o medo dos eternos inimigos à espreita, da espada dos filisteus, dos assírios, dos babilônios.

 

A luta para existir era o lema. As tribos dispersas, o exílio, o drama e a saudade eram o dilema.

 

O tempo passava e dava a impressão de que tudo era engano. Vinha uma luz de renascimento. A Terra é conquistada por Alexandre, o Grande. Domínio helenístico. Herodes, rei vassalo romano, governa a região. Vieram revoltas, contra gregos, romanos, resistência em Massada. Destruição do templo, novo exílio.

 

A certeza teimava em ressurgir na dança com a dúvida, na revelação de novos livros para a continuidade, para encontrar explicações. Mishná, Talmude. Não mude. Rume para o horizonte, siga a Guemará, você remará.

 

Domínio árabe. Dominação dos cruzados. Domínio mameluco. Domínio otomano. Benzion Netanyahu falou em holocaustos antes do Holocausto. Um deles, a Inquisição. Denúncias levavam a conversões, interrogatórios, mortes. Fugas. Nas andanças pela Europa, surgiu Espinosa. Vida espinhosa. O silenciaram pelo medo da perseguição.

 

Os pogroms, os guetos, a falta de liberdade. Contra tudo isso, lutar por soluções. O primeiro bairro construído fora dos muros da Cidade Velha de Jerusalém. Para ir além. A primeira imigração em grande escala, a Aliá, da Rússia. O primeiro kibutz, a primeira cidade moderna, Tel-Aviv, o primeiro Congresso Sionista. O primeiro instituto de tecnologia.

 

Para se contrapor, a Primeira Guerra Mundial. A Segunda Guerra Mundial. Os primeiros campos de concentração.

 

Até que, enfim, o surgimento de uma nação. Era apenas o capítulo inicial, de uma nova história. Com novas guerras, perseguições, atentados.

 

Anseio permanente de paz, de respeito aos vizinhos, às populações da região. Cântico da ascensão.

 

Guerra em seis dias, no Yom Kipur, sanha de ódio permanente no fogo das fronteiras. Acordo de paz. Invasões, erros no Líbano, realocações. A Intifada não é mesmo um conto de fadas. Impasse sangrento. Não matarás. Hamas.

 

O gosto de leite e mel. O cheiro de areia nas suaves colinas da Galileia, o lindo lago Kineret, o milenar Negev e o vento que avança como promessa e lembrança.

 

Por essas e por tantas outras, Israel é que se tornou especialista em repetir a frase “um dia o tempo vai dizer que eu estava certo.”

 

Não há outro jeito. Nunca houve. Quem sabe um dia haverá, quando a humanidade se tornar mais humana. Enquanto isso, a frase se mantém. Aliada ao seu mais conhecido sinônimo. O tempo vai dizer que eu estava certo. Am Israel Chai.

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