Os balões

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Balões jovem empreendimento imobiliário

Por Eugenio Goussinsky

 

Há uma expectativa muito grande em relação à performance das pessoas. No LinkedIn, a ordem é ser assertivo e agregar valor. Coaches vivem exigindo de seus pupilos ou seguidores o máximo de controle sobre si mesmos. Como se isso fosse suficiente para controlar os acontecimentos de fora.

 

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Tornou-se comum um certo desprezo à profissão de garçom. “Será que o sonho dele é prosseguir como garçom o resto da vida?”

 

Frases como esta têm se repetido nas redes sociais, como se fossem estímulos a um desenvolvimento pessoal atrelado ao status, ao poder, àquilo que, muitas vezes, quando não se alcança, faz surgir a imagem de derrotado como castigo.

 

 

“Não conseguiu porque não se permite” é outra afirmação que virou mantra.

 

Frases de efeito, que parecem estimulantes, muitas vezes escondem uma realidade que impede o acesso ao que é visto como sucesso.

 

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Percebi isso na feição de uma jovem de cabelos compridos e castanhos, calças escuras e camisa branca. Ela segurava cinco balões em frente a uma chamada torre decorada, feita para promover um empreendimento imobiliário. Estava parada embaixo da árvore, segurando os balões dourados.

 

Às vezes olhava no celular. Ao guardá-lo na bolsa, notei um crachá antigo de estágio, desses que costumam sobrar depois da faculdade. O semblante sereno era sinal de que ela não se envergonhava em estar ali.

 

Pensei na infância dela, nas expectativas dos pais, nos conselhos dos teóricos das vitórias, lhe perguntando se gostaria de ser a moça dos balões pelo resto da vida.

 

O marketing de rua que ela fazia tinha a importância de colaborar para a ativação de marca e atrair potenciais compradores que gerariam lucros para o empreendedor.

 

Mas não era isso que a sociedade em geral via nela. De repente, em minha mente, vi os balões se transformarem em palavras. Ligados à sua mão por um tênue fio. Cada balão trazia uma expressão: dignidade, orgulho, gratidão, responsabilidade e esperança.

 

Provavelmente, não era essa a função que ela gostaria de ocupar para sempre. Mesmo que, todos nós, em um restaurante, ficamos muito bravos quando o garçom não nos atende.

 

 

O que importava naquele momento eram os balões. As circunstâncias a obrigavam a estar lá. Para trabalhar.

 

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Poderia e deveria sonhar em ser médica ou advogada. Uma artista famosa ou influencer. Até uma empreendedora tão rica para investir em uma obra como aquela.

 

Mas o mais importante estava em suas mãos. Nos fios a ela entrelaçados. Onde quer que estivesse ou no que se transformasse, aquilo mostrava que ela teria uma vantagem. Competitiva. A de estar sempre segurando aqueles balões.

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