O porteiro Rogério é um mineiro simples. Fica na portaria do prédio, com TV, rádio e papeis ao lado, por trás de uma janela de vidro. Era porteiro quando o jovem morava em um apartamento de lá. Foram momentos marcantes para o rapaz.
Ele namorou, assistiu a importantes filmes, leu, viu novelas, acompanhou da cama duas Copas do Mundo, chegava cansado do trabalho no jornal, refletiu e sentiu-se mais fortalecido para sair, se casar e ter filhos.
Consumiu-se de esperança, que superou as dores. Anos depois, morando longe e cheio de recordações, ele ainda passa pela região.
Toca a campainha do portão de ferro, sobe os degraus da entrada, rodeada por jardins suspensos, e cumprimenta o Rogério.
O moço conta as novidades, quem chegou, quem partiu, como vai a senhora de óculos do 84, para onde foi aquela advogada charmosa, onde está o rapaz rebelde que prestara vestibular.
No fim da conversa, ele sempre pergunta sobre seu apartamento, como se tratasse de uma pessoa. “E o 76, como ele está?”
O Rogério acompanha o espírito da pergunta e emenda.
“Ele está bem, nele mora um casal recém-casado”.
O jovem dá um sorriso, vai embora, certo de que passou seu recado ao amigo.
Nem precisou dizer “cuide bem de tudo que deixei aqui”.