No meio da noite, ele entreabriu os olhos, sentindo que estava sonhando com seu pai. Viu-se nos tempos de menino, sendo levado por ele para a escola.
Conversavam sobre as casas da região. Enquanto dirigia, seu pai lhe dizia que gostaria de morar naquele sobrado com portão baixo, com um jardim florido na frente e uma linda varanda na entrada.
Ainda em meia vigília, na cama, chegou a gritar por ele, saudoso, desejoso de revê-lo neste mundo. O desejo aumentou até que, enfim, abriu os olhos. Ao seu redor, o quarto silencioso.
As cortinas estavam adormecidas, a TV desligada, sua esposa dormindo, seus chinelos perfilados no chão, os DVDs contando um pouco mais de sua história.
Respirou o profundo silêncio da madrugada, testemunhou aquele momentâneo descanso do mundo que o cercava. Ia gritar novamente, mas sua voz não saiu. Ficou sufocada.
Implodiu no silêncio enquanto ele mexia os lábios: “Pai”.
O jeito, então, foi se virar para o outro lado, voltar a dormir o quanto antes e ainda tentar pegar um restinho daquele sonho.