Trave

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Quando menino, as bolas que batiam na trave o fascinavam. Mais do que saber o resultado do jogo, perguntava para o pai quantas bolas tinham acertado o poste. Talvez associasse a finura da trave ao fato de ser magro. A importância da trave minimizava a sensação de ser frágil.

 

Encantava-se com a sutileza deste limite entre a conquista e a frustração. Era um prazer ver seu time chutar na trave. Era a sensação de ter chegado até a meta. Era o sorriso de amor da linda menina, que já tinha namorado. Era a nota oito insuficiente para não ficar de recuperação em matemática.

 

A bola na trave simbolizava um estímulo para seguir em frente. Possibilitava a criação. A trave, generosa, pede para que a acertem. De maneira bíblica doa seu corpo para que continuemos a acreditar em nossas capacidades. Para dividir com ela a responsabilidade por nossas agruras.

 

A superfície dura, de ferro, traz uma mensagem doce, de esperança. A trave não permite o gol, mas faz nos sentir com o dever cumprido. À noite, quando o estádio fica vazio e silencioso, a trave segue impávida, sob o sereno, já sem a companhia das redes.

 

Ela é convicta em sua missão. Chova ou faça sol não muda de posição. Insiste em nos mostrar o caminho. Aponta quando estamos perto do acerto.

 

Bem que ele queria, nos dias que seu time perdia, ter uma no seu quarto, para consolá-lo.

 

Ela enxugaria suas lágrimas e diria uma frase mágica, que só as traves nos induzem a pensar nos momentos mais difíceis: “da próxima vez…”

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