Aragem

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Aragem

Saiu de madrugada para levar seu fiho ao aeroporto. O silêncio e a aragem fria o remeteram a outros tempos, na longínqua adolescência. A madrugada, no entanto, era a mesma. O mesmo aroma urbano. O mesmo balançar das árvores. O mesmo barulho distante dos carros. As mesmas esperanças. Madrugadas, assim como aeroportos, são convites à reflexão. Brincam com o tempo e o espaço, revelando suas faces transitórias.

 

E vem o amanhecer, que de repente explode em traços de silêncio e luz, como dizia D’Annunzio. E depois de algumas horas, aterrissamos em outras paragens. Proust já dizia sobre o tempo e seus quadrantes. A viagem de um filho é uma grande transição. É a repetição de antigas expectativas diante do desconhecido.

 

Só que a aventura agora vem dividida. Entre ele e nós. Como se a vida fosse uma espiral de emoções em que, de épocas em épocas, as experimentamos novamente, com temperos diferentes.

 

Parte de nós vai com nosso filho. Outra parte fica com a família que não foi. Parte de nós vive o momento. Outra parte ainda está na adolescência. Parte de nós lamenta as agruras da maturidade. A outra insiste em sorrir diante delas. Parte de nós reside hoje em nossos filhos.

 

A outra parte procura a individualidade de outrora. Muitos sonhos se foram nessas viagens cíclicas. Mas ficaram o silêncio, a aragem e o aroma urbano. A madrugada, enfim, é sempre a mesma.

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