Fim de tarde em Tel-Aviv

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Fim de tarde em Tel-Aviv

Tel-Aviv ataque mísseis Irã a Israel

 

Eugenio Goussinsky

 

O fim de tarde em Tel-Aviv é um espetáculo silencioso. Sempre foi. Os arranha-céus de vidro e aço se enchem de luzes, enquanto o céu se tinge de roxo. Naquele entardecer, mísseis cruzaram os céus e se misturaram às nuvens e às estrelas que já se insinuavam.

 

A cidade que nunca pára viu tudo com serenidade. Se não viu, sentiu. Mas as câmeras postadas nos limites foram testemunhas. Os foguetes que riscavam a paisagem se chocavam com os projéteis do Iron Dome.

 

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O mundo de Tel-Aviv, as vozes, os sonhos, os sorrisos se refugiaram embaixo da terra. Acima das construções, dos parques e das ruas vazias, porém, ficou a alma da metrópole israelense. Ela não temia o confronto com o ódio. Foi um espetáculo transparente, forte, explosivo.

 

 

A coreografia de luzes tomou conta. Acompanhada dos barulhos longínquos de explosões. Parecia um espetáculo de fogos no réveillon. Mas, para além disso, vinha uma mensagem do tempo, da era bíblica até. Como se os ventos da história estivessem soprando ali.

 

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A ameaça e a defesa, a vida e a morte, o passado e o futuro se entrelaçavam em perigoso limiar. O valor da humanidade se inflava diante da ameaça. Sobre a Dizengoff, cuja fonte da praça funcionava solitária. Sobre a brisa da praia na avenida Hayarkon. Acima dos prédios baixos, charmosos. Nas alturas dos bares do porto, do pulsante Neve Tzedek.

 

O confronto ofuscou até o rumor das ondas do Mediterrâneo. Os clubes, as festas, que atraem jovens de todo o mundo, se recolheram.

 

O horizonte urbano falava por todos. Foi quem permaneceu na frente de batalha. Como que pedindo calma, como se tentasse apartar com o olhar. A imponência e a elegância se mantinham de pé. Equilibradas diante da feroz luta.

 

 

Tudo aflorou. Tradição e modernidade também se faziam presentes. Escondidas por entre as frestas da arquitetura Bauhaus. Da casa do poeta Bialik, da praça onde Rabin morreu porque buscou a paz.

 

Tel-Aviv é cheia de bairros boêmios e alternativos, ruas estreitas, arborizadas.

 

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Tem uma estética urbana, onde grafites decoram muros e os edifícios residenciais têm um estilo mais industrial. Diversa, dinâmica. Lá era o local ideal mesmo para simbolizar esse embate celestial.

 

Nestes momentos, o tempo pára. Talvez tenha sido assim quando o mar se abriu. Ou quando foram entregues as tábuas da lei no Monte Sinai. Desta vez, os movimentos foram no céu. Mas a modernidade também viu seu milagre.

 

A fúria, de repente, passou. A brutalidade foi recuando. Como um monstro cansado e frustrado. A máquina, preparada para uma destruição avassaladora, parou.

 

A Rotschild não perdeu nenhuma árvore. A Idelsohn, acanhada, se manteve sem um arranhão. Pequena e resistente lá no centro. Na Ben Yehuda, a casa da mãe de Amós Oz nada sofreu. Assim como o Frishman Falafel, que pôde reabrir normalmente.

 

As pessoas, aos poucos, iam emergindo novamente à superfície. Umas se espreguiçaram, outras se abraçaram. Algumas até esticaram para os bares. Na Hayarkon, o murmúrio do mar voltou a prevalecer. Rotina que segue. É covardia tentar matar uma flor. Tel-Aviv e a vida continuavam belas. Então, a noite chegou.

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